Sim, lírios, observem. Vejam os
homens no mundo. Eles trabalham e tecem, como já foi no passado. Assim como em
séculos anteriores eles continuam a ficar ansiosos e a confiar em si mesmos
para se manter. Suas forças em um momento estão no auge, em outro estão
dependentes de alguém que os conduza, mas não entendem que eles nada podem por
si mesmos.
Muitos séculos se passaram e a
ansiedade somente aumentou na vida de homens e mulheres. Eles querem sempre
mais. Não abarrotam mais seus celeiros, pois agora o bom, o “seguro”, é ter uma
bela conta bancária. Quanto mais números ela apresentar, mais seguros eles se
sentem. Vamos lá, dizem eles, mais dinheiro, mais casas, mais dinheiro, mais
carros, mais dinheiro, mais roupas, mais dinheiro, mais aparelhos celulares,
mais dinheiro, mais gadgets, mais dinheiro,
mais... apenas mais.
O vazio continua, como no passado. As
contas bancárias e os bens podem aumentar, mas só para descobrir que, ao final,
a infelicidade continua. O buraco da falta de sentido tem a força gigantesca de
um buraco negro no espaço. Os seres humanos continuam a se consumir, a se
deteriorar moral, intelectual e fisicamente. Sim, um abismo chamando outro
abismo.
Ah, se eles tivessem fé! Onde está o
grão de mostarda? Assim jamais os montes se moverão. Por que preferem carregar
os fardos pesados, quando é ofertado o leve? Eles parecem desejar o deserto. A
fonte de água foi apresentada aos sedentos, mas a língua contínua a se apegar
ao palato. A garganta arranha e engasga o pó da enganosa autossuficiência. Ah,
se tivessem escolhido a melhor parte! Essa não seria tirada deles.
O pior cego é aquele que quer olhar
para apenas uma direção, que não contempla o todo, que não agradece pelo todo.
O pior cego é quem quer ver apenas o que quer ver, o que lhe convém. Mas é
possível dar vista aos cegos, e é possível abrir os horizontes. É possível que
eles também observem vocês, lírios. Nem Salomão se vestiu como vocês. E
possível que esses cegos voluntários contemplem vocês e se alegrem, e deem
graças, e vivam.